Depois de um singelo atraso cá estamos com o resultado da 2° Mostra Espantomania de Curtas de Horror/Fantástico do Grajaú/ zona Sul de São Paulo. O evento foi realizado nos dias 20 e 21 de agosto de 2011 no CineGrajaú com apoio da Subprefeitura da Capela do Socorro e da Casa de Cultura Palhaço Carequinha. O CineGrajaú fica no Calçadão do Grajaú, rua Professor Oscar Barreto, 252, Parque América - Grajaú/SP, próximo á estação de trem e do Terminal Grajaú.
DIA UM: SÁBADO – 20 DE AGOSTO DO ANO DE NOSSO SENHOR - 2011
Decididamente já havia sido provado que teríamos uma “intervenção Divina” na segunda edição da Mostra Espantomania quando após uma semana inteira de sol escaldante o final de semana se apresentou friorento e chuvoso. Depois de uma verificada na recém-reformada sala de cinema (que contava com um projetor e caixas de retorno de som “de verdade”, diferente do Datashow e do amplificador jurássico que utilizamos no ano passado) e de rezar por alguns minutos frente à máquina de café que instalaram na casa de cultura, Diego A. Horta e eu (Iam Godoy) tomamos uma baita surra da nova aparelhagem da sala de exibição, mas tudo correu tranquilamente. A primeira sessão contou com a apresentação do documentário “Sangue Marginal”, dirigido por Bruno Russo Simonetti e Marco Antonio Vaz de Oliveira Filho, onde grandes figuras do cinema indie de horror como Petter Baiestorf (Ninguém Deve Morrer, O Doce Avanço da Faca), Kapel Furman (Pólvora Negra), Marcelo Milici (Boca do Inferno), Dennison Ramalho (Amor só de Mãe, Ninjas), Fernando Rick (Colecionador de Humanos Mortos, Guidable: A Verdadeira História do Ratos de Porão) e outros feras do horror underground falam sobre as dificuldades de se fazer filmes de gênero no país do carnaval e do futebol.
Logo após o documentário fizemos uma pausa para tomar um café (ou chá, também de graça!!!) e conversar com os amigos Sandro Debiazzi (O Tormento de Mathias) e Dasto Tespar (diretor do curta “Sonhos de Vidro” e que demonstrou ser um valoroso guerreiro do cinema de horror nacional, pois teve o “dom” de chegar de Santos um dia antes da Mostra e pernoitar num pulgueiro aqui da Z/S típico de uma refilmagem de “O Albergue”). No decorrer do dia novos amigos foram chegando: o corajoso “infernauta” João Cont Junior (que compareceu em todos os dias desde o começo do festival), Vanessa Reis (Sonhos de Vidro), Joel Caetano e Mariana Zani (Estranha), Patty Fang (que me trouxe um botton e um catálogo do Fantaspoa autografado por nada menos que Lamberto Bava...obrigadão, Evil Dead Girl!), Fritz Martiliano (O Azif), Vivi Amaral e Eduardo Santana (Cinefantasy), Marcelo Milici e Renato Rosatti (Boca do Inferno) e uma galera local que mesmo tímida, se divertiu bastante durante todo o dia de exibições no Cine Grajaú.
Um ponto forte da mostra foi a Mostra Paralela de Curtas onde a galera de todas as idades pôde conferir curtas fantásticos como “O Tormento de Mathias” (Direção: Sandro Debiazzi, 50’, São Paulo/SP/BR, 2011), “O Homem com Cara de Porco” (Direção: Anderson Dino, 07’ 09”, São Roque/SP/BR, 2011) e “A Torre Sangrenta” (Direção: Marcio Desideri, 09’02”, São Paulo/SP/BR, 2010), que não pôde ser exibido na íntegra no festival do ano passado por causa de falhas técnicas da aparelhagem.
Na primeira sessão da Mostra Competitiva (tendo como membros do juri Renato Rosatti, Vivi Amaral e Marcelo Milici) exibimos os curtas “Sonhos de Vidro” (Direção: Dasto Tespar), que impressionou com sua fotografia, mas confundiu um pouco com sua estranha legenda bilíngüe, “Estranha” (Direção: Joel Caetano) que mostrou como se faz cinema de qualidade com recursos limitados (e que causou um alvoroço no meio médico por causa da movimentação voluntária da cricóide...kkkkkkk) e o polêmico “O Doce Avanço da Faca” (Direção: Peter Baiestorf), proibido em algumas mostras e passado NA ÍNTEGRA na Mostra Espantomania. O interessante é que difícil não foi exibir o filme de Sir Baiestorf e sim explicar pra molecada presente o porquê deles não poderem assistir aquela sessão e quem conhece os trabalhos do canibal de Palmitos sabe que isso não é uma tarefa fácil. E antes que eu me esqueça; como sempre tem um caroço no nosso angu os arquivos com os curtas “A Maldição de Berenice” (Direção: Valério Fonseca) e “O Azif” (Direção: Audrey Martiliano) não foram “reconhecidos” pela aparelhagem da sala de exibição no sábado e foram exibidos somente no dia seguinte após uma conversão para outro formato de vídeo.
Algumas pessoas reclamaram sobre o fato dos filmes estarem muito escuros na telona. Tenho que afirmar que isso pode ter dificultado um pouco a qualidade de alguns trabalhos filmados em ambientes escuros, mas de acordo com o responsável pela mesa de exibições (Diego A. Horta, Projeto Sfero e coluna Sangue em Tokyo) a configuração do projetor e o cabo VGA prejudicam um pouco as imagens projetadas, mas isso não prejudicou em nada o entusiasmo da galera que aplaudia cada trabalho exibido. As 16h00min ainda não havíamos conseguido um microfone para a leitura da carta-protesto escrita pelo diretor Dennison Ramalho sobre a proibição do filme “A Serbian Film” no RioFan então decidimos distribuir os fanzines com o conteúdo da carta impresso para os visitantes.
Na segunda sessão da Mostra Competitiva tivemos como competidores os curtas “Matheus 13:47” (Direção: Flávio Carnielli), promovendo a real salvação da Humanidade, “Fome” (Direção: Paulo Oliveira), matando a fome a qualquer custo e o vampiresco “Lâmia: Vampiro” (Direção: Rubens Mello) com uma pequena participação do fodástico Mojica Marins. Como concorrentes na categoria Melhor Curta Internacional tivemos o espanhol “Attack of the Mutant Dick from Outer Space” (Direção: Dani Moreno) que mesmo sem legenda divertiu a todos os presentes com sua absurda ficção científica e o francês “Paris by Night of the Living Dead” (Direção: Gregory Morin) que narra a história de recém-casados num país infestado por zumbis e que impressionou a galera com a qualidade gráfica de seus efeitos. Após mais um coffee-break e bate-papos no saguão do CineGrajaú com os recém-chegados Magnun Borini (Dudjinka: O Monstro Assassino), Paulo Oliveira (O Homem com Cara de Porco, Fome), Izabel Bonne e família todos seguiram para a sala de cinema para assistir a última exibição do sábado, o documentário “Dona Oldina: A Fernanda Montenegro do Trash” (Direção: Marie Pergufel). Muitíssimo bem recebido pelo público o único ponto fraco do documentário foi o de não puder ter servido algumas porções daquela polenta caseira do Sul, que maltratou todos os famintos espectadores daquele sábado chuvoso.
DIA DOIS: DOMINGO – 21 DE AGOSTO DO ANO DE NOSSO SENHOR - 2011
No dia 20 de agosto de 2011 foi realizado o primeiro dia da 2° Mostra de Curtas de Horror/Sci-Fi Espantomania, situada no bairro do Grajaú, zona sul de São Paulo. De acordo com a direção do CineGrajaú e da Casa de Cultura Palhaço Carequinha teríamos a nossa disposição a sala de exibição nos dois dias da Mostra (20 e 21 de agosto) e qual não foi a nossa surpresa ao saber que no mesmo dia teria uma "vigília" evangélica ministrada pela “Igreja Pentecostal Tocha Acesa” dentro da sala de cinema que se iniciaria às 23h30min e se encerraria na manhã de domingo. Eu até achei estranho eles utilizarem a sala de cinema para o culto sendo que a própria Casa de Cultura Palhaço Carequinha tem um teatro duas vezes maior que o cinema, mas nem levei o fato em consideração.
Ficamos chocados no começo, mas no resto do dia levamos tudo na esportiva, pois a mostra terminaria em torno das 20h00min e só retornaria no dia seguinte (domingo, dia 21 de agosto) a partir das 10h30min. Quando chegamos ao local (Diego A. Horta e eu) e nos preparávamos para testar os equipamentos e filmes que participariam da Mostra Competitiva do evento notamos que havia algo de errado com o equipamento. As mesas de som tiveram sua programação alterada, cabos de som foram escondidos (se não roubados ou destruídos!) e todo o sistema de retorno das caixas de som estavam mudas. Como chegamos antes da abertura do espaço cultural chegamos a pensar que poderia se tratar de uma pane geral no prédio (tirando de base a inundação que acabou por destruir parte do cinema no começo de 2010), mas no decorrer do dia as demais salas de atividades (capoeira, balé, street dance etc) começaram seus trabalhos e somente a sala do cinema permanecia avariada. Seria uma triste coincidência?
Na minha mais sincera opinião (me perdoem os amigos e contatos evangélicos) acredito ter sido uma tentativa de sabotagem na mais pura maldade e preconceito e até arrisco que isso foi um crime premeditado. De acordo com a direção do espaço cultural a reunião religiosa não teve permissão de utilizar o espaço, mas isso não impediu o grupo de realizar a tal “vigília” num dia propício. Nos domingos, nenhum dos funcionários do Cine Grajaú trabalha e apenas os seguranças ficam no local, o que facilitou a atitude criminosa dos evangélicos. Atrapalhando a parte elétrica do cinema no sábado não teríamos a quem recorrer para os reparos e manutenção dos equipamentos. Foram horas de correria e stress até que chegamos a contratar um técnico para resolver o problema, mas duas horas de programação foram descartadas (inclusive o documentário "Fanzineiros do Século Passado", de Marcio Sno) e muitos dos visitantes acabaram por ir embora antes da resolução dos problemas.
Mas graças a Deus (Anderson “DEUS” Godoy, o técnico de informática que foi a salvação da Mostra Espantomania - 2011) o restante do evento correu sem nenhum contratempo e os poucos corajosos que resolveram ficar até o final tiveram seus trabalhos apresentados e votados como mandava o figurino, mas a sombra do descaso com a Mostra Espantomania pairava nos comentários entre as pausas das exibições. Como tivemos que alterar a programação de domingo no lugar do “Bate-Papo com o Horror” que teria como convidados Felipe M. Guerra (Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado: Parte 2), Adriano Siqueira (Site Adorável Noite), Rubens Mello (A História de Lia, Vermibus) e Joel Caetano (Estranha) resolvemos exibir os curtas da Mostra Paralela aos espectadores e visitantes enquanto Felipe M. Guerra, Sandro Debiazzi, Joel Caetano, Patty Fang, Mariana Zani, Fritz Martiliano e Renato Batarce detonavam uns lanches no Açaí Express pra espantar o frio.
Os curtas apresentados na Mostra Paralela do domingo foram os seguintes. O norte-americano “A Blind Date of Coffin Joe” (Direção: Raymond Castile) onde o assombroso Zé do Caixão procura a mulher superior num reality show de namoro, o gaúcho “Extrema Unção” (Direção: Felipe M. Guerra) que apresenta uma história sobre uma casa supostamente assombrada e o divertidíssimo Ninguém Deve Morrer (Direção: Petter Baiestorf) que arrancou suspiros e gargalhadas do pessoal com pérolas do brega nacional e com as coreografias erótico/performáticas de Gurcius Gewdner. Na Mostra Competitiva dominical foram exibidos os curtas “A Maleta” (Direção: Rodrigo Brandão) de Minas Gerais, o paulistano/canadense “Trilogia Gore” (Direção: Dimitri Kozma, Geisla Fernandes e Fernando Domenico). Do Sul tivemos a participação de “A Paixão dos Mortos” (Direção: Coffin Souza) com uma inteligente fotonovela virtual, o comentado trabalho “Velho Mundo” (Direção: Armando Fonseca) de Brasília e o aguardadíssimo “Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado: Parte 2” (Direção: Felipe M. Guerra) que mesmo sendo o único longa-metragem da Mostra (83 minutos) prendeu a atenção do pessoal do começo ao fim. No meio da exibição do filme resolvi fazer mais uma visita à máquina de café e tropecei no pé de alguém e qual não foi a minha surpresa ao descobrir o ilustre Adriano Siqueira quietinho na primeira fileira.
No intervalo para a segunda sessão da Mostra Competitiva a bagunça tomou conta da marmanjada. Algum “cabron” sem coração decidiu que seria uma boa assassinar o pobre Siqueira num livrossínio enquanto Joel Caetano, Felipe M. Guerra e Mariana Zani faziam releituras dos cartazes no mural do saguão do Cine Grajaú. Do outro lado, as mesas de conferências viraram verdadeiros piqueniques e não posso deixar de citar o garoto Azeitona que divertiu (e aporrinhou) todo mundo com suas perguntas e dentre elas estava a sua maior dúvida: Sandro Debiazzi era o “cara da bundinha” (Gurcius Gewdner em cena de “Ninguém Deve Morrer”) mas não queria assumir?
Pondo bagunças e comilanças à parte, partimos para a segunda sessão da Mostra Competitiva com a exibição de uma trinca brasiliense encorpada por “Kaíra” (Direção: Tiago Belotti), “Paranóia” (Direção: Fé Cruz e Filipe Gontijo) e “Bastar” (Direção: Gustavo Serrate) que apresentaram com grande afinco o seu material. Um destaque especial para a sci-fi apocalíptica de “Kaíra” e o desenrolar frenético de “Bastar”, que apresentou uma nova leitura da licantropia urbana. De Mauá tivemos a participação de “Ritual do Delírio” (Direção: Marcos T. R. Almeida e J. Salles) que abordou um tema bastante apropriado para os problemas que tivemos no dia: o anti-cristianismo além da reprise dos curtas “O Azif” e “A Maldição de Berenice” que tiveram problemas técnicos no sábado.
E finalizando este relato de como foram os dois dias da mostra que “possuiu” o bairro do Grajaú terminamos o último dia da Mostra Competitiva com a exibição dos curtas internacionais que concorriam no domingo “The Devil at Lost Creek” (Direção: Raymond Castile) onde um garoto tenta livrar sua família da pobreza procurando o lendário Pé-Grande e o primeiro filme português de zumbis “I’ll See You in My Dreams” (Direção: Miguel Angel Vivas) encabeçado na sequência pelo documentário “A Curta Mais Longa” (Direção: Marta Ribeiro, Antonio Pedro Nobre e Filipe Melo) que mostrou os bastidores e algumas curiosidades do filme I’ll See You in My Dreams.
No final do dia ficou apenas o bagaço deste organizador e seus assistentes, mas uma coisa ficou bem gravada nestes dois dias de stress e correria. Não seriam as intempéries ou diversidades ideológicas/religiosas que nos impediriam de realizar o prometido: apavorar o Grajaú com um festival que nunca ninguém jamais realizou na periferia. Um muito obrigado a todos os envolvidos e aos espectadores que escolheram sair de suas casas quentinhas para assistirem esta segunda edição da Mostra que tem como principal objetivo o de apresentar o verdadeiro cinema alternativo de gênero. Um grande abraço a todos e até 2012 (se o mundo não acabar...).
Para quem não conseguiu ir na Mostra Espantomania e quer ver todas as fotos do evento basta clicar no banner abaixo.
RESULTADO ESPANTOMANIA - 2011
MELHOR CURTA PROFISSIONAL:
“Estranha” – Joel Caetano – São Paulo.
MELHOR CURTA ESTUDANTE:
“Velho Mundo” – Armando Fonseca – Brasília.
MELHOR CURTA AMADOR:
“Kaíra” – Tiago Belotti – Brasília.
MELHOR MÉDIA AMADOR:
“Entrei em Pânico... Parte 2” – Felipe M. Guerra – São Paulo.
MELHOR CURTA INTERNACIONAL:
“I’ll See You in my Dreams” – Miguel Ángel Vivas – Portugal.
MELHOR DOCUMENTÁRIO:
“A Curta mais Longa” - Marta Ribeiro, Antonio Pedro Nobre e Filipe Melo – Portugal.